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Michuim 2025 marca com discursos sobre crise no agro

Michuim 2025 marca com discursos sobre crise no agro

01-12-2025

O evento, que reuniu a família do agronegócio de diversos Estados, abriu espaço para análises críticas, reivindicações e apelos por políticas duradouras que garantam segurança ao produtor rural.

O tradicional Michuim da Cooperativa Agropecuária Camponovense (Coocam), realizado no sábado, dia 29 de novembro, superou a expectativa de um evento de confraternização. Reunindo a família do agronegócio de Santa Catarina e de diversos Estados do Brasil, com a presença de autoridades políticas e do setor do agronegócio brasileiro, o encontro serviu como palco para o debate sobre os desafios e as crises que afligem o setor produtivo.

O foco principal dos discursos durante o protocolo ficou voltado ao apelo para que a agricultura seja tratada como uma prioridade nacional e não como uma variável sazonal de governo. As lideranças presentes, incluindo representantes do cooperativismo e do governo municipal, estadual e federal, uniram-se na análise da atual conjuntura, que exige um reposicionamento estratégico do país em relação ao seu principal motor econômico.

Michuim 2025 marca com discursos sobre crise no agro

O discurso de abertura, proferido pelo vice-presidente da Coocam, Riscala Miguel Fadel Junior, trouxe a situação atual como uma crise silenciosa. Ele alertou que, sem visibilidade pública, o produtor rural não está conseguindo pagar as contas. Ele atribuiu o problema à negligência do Brasil em tratar o setor, contrastando com países como a França e os Estados Unidos, que defendem o agricultor. A raiz da crise, segundo ele, é a falta de uma política agrícola duradoura e de longo prazo, já que a política atual é instável. Para ilustrar a seriedade da situação, Junior citou dados divulgados neste mês de novembro pelo Banco Central, onde 74% dos produtores rurais que entraram em inadimplência no período pós-pandemia nunca haviam atrasado parcelas, provando que o problema é estrutural e sistêmico.

Para combater essa instabilidade e o problema da inadimplência, a solução passa, necessariamente, por uma atitude política da própria classe. Riscala Junior defendeu que é preciso eleger um Congresso comprometido com as causas agrícolas para garantir que as metas e os parâmetros do setor sejam estabelecidos de forma longeva. "Nós temos que ter um Congresso comprometido com as causas agrícolas. Todos os países tratam os agricultores como uma joia rara da coroa. No Brasil não."

José Dirceu Kaiper, prefeito de Campos Novos, celebrou o Michuim da Coocam como um evento de união que celebra quem produz e faz a roda girar na região. Em seu discurso, firmou compromisso com a melhoria da infraestrutura rural do município, crucial para o escoamento da produção e a competitividade do agronegócio local.

Kaiper reafirmou o compromisso de investir e melhorar a infraestrutura rural, prometendo levar asfalto a granjas produtoras e, especificamente, até a entrada da Avícola Cascata, ainda no primeiro semestre de 2026. A Avícola Cascata, empresa com sócios ligados à Coocam, é uma produtora relevante na região, e o asfaltamento visa garantir condições de transporte com qualidade no produto e na logística da produção.

Michuim 2025 marca com discursos sobre crise no agro

Outra pauta abordada pelo prefeito durante seu pronunciamento no Michuim foi a construção do sonhado aeroporto no município. Dirceu Kaiper destacou a vocação de Campos Novos como o maior produtor de sementes de Santa Catarina e defendeu, em parceria com empresários e o governo estadual, a busca ativa pela infraestrutura aeroportuária. O tema, um projeto antigo e fundamental para a região, foi reativado pela gestão como uma necessidade para a logística e a atração de investimentos, dadas as excelentes condições geográficas para a aviação da cidade. O prefeito falou sobre a importância da mobilização social, do trabalho em conjunto sem olhar siglas partidárias. “É preciso esquecer a política e trabalhar em um bem comum. O produtor rural sabe trabalhar e só precisa que o governo dê condições e incentive”, disse o prefeito.

Já o deputado estadual Altair Silva utilizou sua fala para focar nas dificuldades macroeconômicas que atingem diretamente o produtor catarinense. Membro da Comissão de Agricultura, ele alertou sobre a situação dramática em cadeias produtivas específicas, mencionando que o produtor de leite está em um momento insustentável, chegando a pagar para produzir, enquanto o produtor de milho não cobre o custo de produção. Diante desses desafios críticos, o deputado afirmou que a Assembleia Legislativa, por meio de sua Comissão de Agricultura, está totalmente à disposição para trabalhar nos desafios do agro catarinense, um setor que, segundo ele, demonstra a cada ano um constante desafio de superação e no qual a força e a coragem residem na capacidade de superar as adversidades.

O Secretário Adjunto da Agricultura de Santa Catarina, Ademir Dalacorte, utilizou sua experiência como produtor rural para apoiar as críticas do setor. Ele reiterou a necessidade urgente de tratar a agricultura como uma política de Estado e não apenas de governo. Dalacorte argumentou que as cadeias produtivas mais importantes do estado, como grãos, leite e agricultura, precisam de mais proteção ao produtor, um apoio que, segundo ele, depende em grande parte do Governo Federal. O secretário adjunto assumiu o compromisso de trabalhar junto com o secretário Carlos Chiodini para que, em nome da pasta, possam encarar as dificuldades e concretizar um trabalho de conquistas e realizações para todo o estado de Santa Catarina.

O Presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc), José Zeferino Pedroso, reforçou em seu pronunciamento que o agronegócio vive um momento complicado. Ele relatou a gravidade da crise de crédito, onde o dinheiro parece ter sumido, com produtores de leite buscando prorrogações, evidenciando um período muito difícil da economia. Zezo enfatizou que o setor, responsável pelo sucesso do Brasil no comércio internacional, precisa ter sua força valorizada e protegida. Na esfera política, ele celebrou a recente derrubada do veto presidencial ao Licenciamento Ambiental no Congresso, destacando o forte apoio da bancada catarinense, e fez um apelo eleitoral incisivo, para que os produtores se lembrem das dificuldades atuais ao votar, finalizando com uma crítica direta ao governo federal por não olhar com bons olhos para o agronegócio.

O presidente da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), Vanir Zanatta, expressou o orgulho do sistema cooperativo em contar com a Coocam, destacando o papel de Campos Novos como um município fortemente cooperativista. Zanatta convergiu com a necessidade de fortalecer a representação e a mobilização política em apoio ao agronegócio. Ele anunciou que o sistema cooperativo irá iniciar reuniões de educação política no estado, além de manifestar profunda preocupação com o setor, alertando que as cadeias do arroz e do leite estão suportando grandes perdas. Por fim, criticou a postura do governo federal por buscar o preço baixo para o consumidor sem considerar a viabilidade e o custo de produção do agricultor.

O senador Esperidião Amin iniciou celebrando o trabalho e a solidariedade. Fez um direito de resposta aos temas, concordando que é muito sério o país deixar produtos essenciais à mercê de caprichos. Defendeu que a agricultura é uma escolha de vida, uma vocação, e não uma temporada, exigindo do governo uma política permanente, como a dos EUA e União Europeia. Anunciou a derrubada de outro veto presidencial, com 437 votos na Câmara e 66 no Senado, garantindo que Santa Catarina abata de sua dívida federal cerca de R$ 450 milhões relativos a obras.

Michuim 2025 marca com discursos sobre crise no agro

O Presidente da Coocam e anfitrião do evento, João Carlos Di Domenico, iniciou seu pronunciamento relembrando a origem do evento, explicando que o Michuim começou há 32 anos com apenas 18 sócios para celebrar a criação da cooperativa. Hoje, além de festa, o evento é um momento de reivindicação e de mostrar a capacidade de vencer dificuldades.

João Carlos fez uma crítica contundente ao cenário nacional, afirmando que, diferentemente de épocas anteriores, onde o governo apoiava nas dificuldades, neste momento o setor está abandonado e sendo sacrificado. Ele argumentou que esse sacrifício é deliberado e visa manter autoridades no poder através da promessa de alimentação barata, uma estratégia perigosa que levará à quebra da estrutura e a um aumento de preços no futuro.

Reconhecendo que o agricultor é otimista por natureza e vive de esperança, o presidente da Coocam alertou que só esperança e seriedade não bastam. “É preciso ter atitude política. A recente derrubada de um veto presidencial é prova de que a atitude muda o destino. Por isso, precisamos fazer o dever de casa, votando em quem está comprometido com o produtor, não devemos votar em quem conta mentirinhas", disse Di Domenico. Ele alertou ainda que o país caminha para um mundo difícil e que não há nada pior do que perder a liberdade, reforçando para que os eleitores votem pensando nas futuras gerações. Por fim, manifestou grande satisfação pela mobilização política anunciada pelo sistema cooperativo, que significa que as cooperativas encararão a linha de frente na defesa de seus interesses. O presidente encerrou pedindo a Deus que os ilumine para que tenham a atitude correta nas próximas eleições.

Michuim 2025 marca com discursos sobre crise no agro

Apesar dos desafios apresentados, a confraternização se manteve como um ato de fé e otimismo no futuro do agro. O evento reforçou os laços de união entre os associados e as lideranças. Com o encerramento desta edição, a Coocam já prepara a organização para o próximo ano, garantindo que o tradicional Michuim volte a acontecer em 2026.