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Produtores Rurais sentem os efeitos da Guerra e dos cortes no Agro
25-06-2025Instabilidade internacional pressiona preços dos fertilizantes
A recente escalada de tensão no Oriente Médio, com o conflito entre Irã e Israel, já começa a refletir de forma direta no agronegócio catarinense. Para os produtores rurais, o impacto mais imediato tem sido o aumento no custo dos adubos nitrogenados, essenciais para culturas como o milho.
João Carlos Di Domenico, produtor rural e presidente da Cooperativa Agropecuária Camponovense (Coocam), relata que o Irã, sendo um dos grandes fornecedores de insumos nitrogenados, é peça-chave na cadeia global de produção. "A guerra cria um transtorno logístico, principalmente no transporte marítimo, o que acaba alterando os preços. Quem está comprando ureia da região do Oriente Médio está pagando cerca de 50 dólares a mais por tonelada", observa João Carlos.
Esse cenário traz consequências práticas para o planejamento agrícola. Tradicionalmente, em Santa Catarina, o milho é plantado entre setembro e outubro no estado e exige grande volume de nitrogênio na sua adubação. Com os preços elevados, muitos produtores já cogitam migrar parte das áreas destinadas ao milho para o cultivo da soja, que demanda menos fertilizante nitrogenado.
“Se o custo inviabilizar a cultura do milho, o produtor acaba optando pela soja. Isso pode agravar ainda mais o déficit de produção interna, já que nosso estado não tem safrinha e depende fortemente da produção de milho para alimentar suas cadeias de suínos, aves e leite. Hoje já temos um déficit de 5 a 6 milhões de toneladas de milho, e esse número pode crescer ainda mais”, alerta o produtor.
Cortes no Plano Safra e falta de política de longo prazo preocupam o setor
Além dos impactos da guerra, os produtores catarinenses enfrentam outro desafio: a redução nos recursos destinados ao Plano Safra 2024/2025. O corte de quase 50% nos subsídios para equalização de juros gerou preocupação em todo o país, especialmente entre os pequenos e médios produtores.
Para João Carlos, a falta de previsibilidade e a mudança nas regras durante o ciclo agrícola dificultam o planejamento no campo. "Não existe atividade agrícola sem otimismo. Mas o produtor precisa de uma política de longo prazo, com segurança para investir. O governo muda as regras no meio do jogo, sem considerar que a agricultura não pode parar. Nós temos janelas curtas para plantar e colher", reforça.
O presidente da Coocam destaca que tanto os pequenos quanto os grandes produtores são afetados pelas incertezas econômicas. "Não importa se planta um saco ou cem mil, todos são produtores. O que precisamos é de uma política justa, que valorize quem trabalha e produz neste país", afirma.
Entre os pontos mais criticados pelo setor estão o aumento da carga tributária, como o IOF sobre crédito rural, e a redução das linhas de financiamento a juros controlados. Para Di Domenico, o governo deveria apresentar um plano de desenvolvimento agrícola com horizonte de pelo menos dez anos. "Sem previsibilidade, o produtor não tem como fazer investimentos de médio e longo prazo", lamenta.
Otimismo e Resiliência
Apesar das dificuldades, João Carlos Di Domenico encerra com uma mensagem de esperança, reforçando o perfil do homem do campo. "O produtor rural é, por natureza, otimista. Acredita na terra, acredita que vai dar certo. Mesmo com todos os desafios, seguimos firmes, porque produzir com qualidade, alta produtividade, e em harmonia com a natureza é a nossa missão”, finaliza.